Meados do século XX. Uma jovem piedosa, encerrada no sul dos Estados Unidos, mora com a mãe e tem, por passatempo, o hábito de criar pavões e outras aves, ao mesmo tempo que padece da dolorosa doença que a levaria à morte aos 39 anos de idade. Essa não parece ser uma vida assaz emocionante, quanto mais a de uma mulher que viria a ser conhecida como uma das maiores escritoras do século XX. E não só: não parece ser a vida de uma mulher que se tornou tudo isso escrevendo sobre personagens por vezes grotescos, sempre incompreendidos, mas que, precisamente em sua excentricidade ou sordidez, são capazes de revelar a leitores atentos o modo como a graça irrompe e opera no mundo. A simploriedade de Flannery O’Connor, portanto, foi apenas aparente. Como revelam as páginas de A implacável velocidade da misericórdia, esta «caipira tomista», como ela mesma se denominava, alcançou tão grande prestígio justamente em razão da profundidade de sua formação e sua fé. Eis aqui, numa biografia completa e objetiva, a história de uma mulher forte e desconcertante, atenta às tendências de sua época, dotada de concepções artísticas bem consolidadas e uma visão de mundo que só pôde se formar porque seu olhar esteve sempre voltado para o alto.